O metaverso é visto como uma tecnologia que vai se popularizar nos quatro cantos do mundo nos próximos anos, em diversos aspectos da nossa vida — trabalho, compras, lazer, estudo, encontros etc. E, mesmo que seja movido por avatars, preocupações criminais, comuns do convívio humano, já estão se tornando reais nesse universo.

Aqui vale a gente puxar a abordagem de um artigo do filósofo australiano David J. Chalmers. Na publicação, ele explora não só as relações entre o mundo virtual e a mente humana como também o que onosso cérebro considera aceitável ou não nessas interações.

Inicialmente, ele diz haver uma série de condutas, que, mesmo violentas, são consideradas de boas pelos usuários, por exemplo, matar um avatar em um jogo, cuja lógica é exatamente essa.
 

Sentimento ao cubo

Por outro lado, David traz a expressão “apego de avatar”, discutido pela também filósofa australiana Jessica Wolfendale: de acordo com ela, à medida que a experiência nesse ambiente é aprimorada, ou mais realista, a violação dos “corpos virtuais” é sentida como algo extremamente grave por vítimas e parte de suas comunidades.

O texto, entretanto, relata uma série de casos de crimes digitais dessa categoria desde a década de 1990, ou seja, quando tudo isso era mato. Um exemplo rolou na plataforma LambdaMOO, ambiente que imita interações reais por meio de salas de bate-papo.

Lá, a galera podia trocar ideia por meio de “cômodos” de uma casa hipotética, como sala de estar. Em uma dessas situações, um usuário apelidado de Mr. Bungle conseguiu simular atitudes de violência sexual contra outras pessoas.
 

Virtual, porém real

Uma das vítimas relatou ter se sentido profundamente devastada, acumulando traumas ao longo da vida. Vários usuários presentes também condenaram as ações criminosas. No fim, o bandido foi banido do LambdaMOO, porém, continuou criando outros users e atacando virtualmente.

Essa história pisca o alerta a respeito de ferramentas de segurança que devem ser aplicadas em uma experiência tão imersiva quanto o metaverso. Afinal de contas, um simples bloqueio não vai ser o suficiente, como deu para notar.

A International Criminal Police Organization (Interpol) inclusive já se tocou desse problema, assim, vem mapeando comportamentos violentos e criminosos nesse sentido. Para isso, a organização criou o “Metaverso da Interpol”, que seria “o primeiro projetado especificamente para a aplicação da lei em todo o mundo”.
 

O game imita a vida

Dessa forma, os agentes podem realizar treinamentos para investigação forense, além de compartilhar conhecimento e informações transfronteiriças. Por meio da tech, também foi criado um grupo com especialistas no assunto.

Em entrevista ao Zdnet, o secretário-geral da Interpol, Jürgen Stock, disse que aaplicação da lei nessas circunstâncias será desafiadora. Logo, para se antecipar desse B.O. o melhor caminho é que as autoridades experienciem o metaverso de modo mais completo possível.

Segundo a consultoria Gartner, 25% da populaçãovai passar pelo menos 1h do dia no metaverso até 2026. Por sua vez, um relatório da Interpol indica que 70% dos oficiais de seus 195 países-membros preveem umsalto de ataques de ransomware e phishing até os próximos 5 anos.
 

Rede do mal

Em um artigo no site do Fórum Econômico Mundial, a expert em conteúdo Anna Maria Collard, tambémlistou uma variedade de crimes ou golpes passíveis de serem cometidos no metaverso — o que envolve, em muitos casos, a combinação de techs com foco em carteiras de criptomoedas ou NFTs de usuários.

Com recursos de deep fake, os bandidos podem, por exemplo, simular o avatar de instituições, pessoas públicas ou gente comum para realizar roubos e até mesmo implantar ataques phishing. Outra brecha estaria em fisgar dados armazenados em headsets de realidade virtual e mista, como de senhas e cartões de crédito.

A transmissão de conteúdo sensível nesses equipamentos, em especial para crianças, seria mais um obstáculo para a lei. Este, então, é o momento para autoridades públicas, empresas, juristas e profissionais do setor se unirem para desenvolver ferramentas de combate.
 

Metaverso é ambiente de droga

Também é megaimportante criar, para ontem, materiais educativos para as pessoas identificarem potenciais ataques e usuários suspeitos. “Ok, mas existe punição hoje?”, você deve estar se perguntando. 

À Exame, o advogado Filipe Batich explicou que crimes praticados no metaverso podem serenquadrados nas leis do mundo físico — ele até mencionou que esse recurso tem facilitado o tráfico de drogas, devido à descentralização e falta de monitoramento.

Contudo, a ausência de preparação das autoridades e até mesmo a localidade dos usuários (como cidades pequenas) são barreiras para a investigação adequada. Enfim, ainda falta muita coisa para rolar até que de fato algo concreto resolva as falhas de segurança do metaverso. E, adiantados que somos, fizemos a nossa parte em deixar as pistas para solucioná-las.

Fonte: The Brief